quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O que você está fazendo em Berlim? / Was machst Du hier in Berlin?

                                                                                                                 *Deutsche übersetzung unten 

© Karla Maragno

Esta é uma pergunta que mais cedo ou mais tarde, os brasileiros que moram aqui ouvirão. Quando porém, se passa muito tempo sem ouvir essa pergunta, mesmo frequentando festas, reuniões, onde se conversa a noite inteira com alemães, e nenhum deles lhe pergunta o que você está fazendo aqui, você se sente tão bem, tão à vontade, que quando finalmente lhe é feita esta pergunta, ela quase adquire vida própria, tamanha a diversidade de significados e reações que pode causar.
Por exemplo, se for algum brasileiro ou outro estrangeiro que perguntar, provavelmente ela não terá muita importância, mesmo que a pessoa não tenha resposta para isso. O que é muito comum. Muitas pessoas estão aqui e nem sabem ao certo o por quê.  Chegam aqui, vão gostando e vão ficando. Sendo assim a pergunta a respeito de Berlim, se torna complicada de ser respondida. Ainda mais se feita por algum alemão desconhecido ou pouco conhecido, dependendo do contexto ou da sua auto estima, essa pergunta pode se tornar irritante, ou intrigante, por gerar de imediato uma série de outras perguntas.


Se a auto estima estiver alta, pode questionar em sua mente se o problema de auto estima baixa é do alemão que lhe fez a pergunta, e se perguntar mentalmente:
Será que ele acha que seria melhor morar num país tropical, com o sol brilhando e calor o ano inteiro?Será que ele acha um absurdo eu trocar minhas praias ensolaradas pelo clima cinza e frio daqui?Será que o sonho dele é poder andar de camiseta, bermuda e chinelos o ano inteiro?Será que ele não sabe dos índices de violência do Brasil?


Mas, se sua a auto estima estiver baixa, a mente gerará outro tipo de perguntas:
Mas por que ele quer saber?Estou incomodando  e ele preferiria que eu não estivesse aqui?Ele pensa que não tenho direito de estar aqui? Tem alguma coisa contra?Será que ele tem algum preconceito contra brasileiros, ou estrangeiros em geral? Ele pensa que a Alemanha é só dos alemães? Ele é Neo-Nazi? Ele vai ficar mais feliz se eu for embora amanhã?
Com tantas perguntas em mente, a gama de respostas também se amplia. Ela pode ser vaga, como por exemplo, "é uma longa história". O que subentende-se, não há história alguma. Ou a resposta pode ser rude, como, "porque eu quero!" ou algo idiota como, "porque tem muita gente loira aqui." Ou algo sem sentido como, "porque é a única cidade que conheço que viveu anos dividida por um muro." Ou algo pseudo intelectual maluco como, "viver numa cidade onde a história me persegue onde quer que eu vá, me leva a um estado constante de de conexão ao passado para entender o mundo presente. Sem falar no desenvolvimento da minha imaginação. Eu posso desfrutar aqui a energia da superação, de uma cidade que foi palco do fim da segunda guerra mundial, completamente bombardeada e reconstruída. Isso é mágico, sinto aqui a luz e a sombra."


Mas se você estiver bem seguro do que está fazendo aqui, apenas irá responder sem rodeios, e, naturalmente, e seguir a diante a conversa. Mesmo porque na maioria dos casos é pura curiosidade.Se há um alemão morando no Brasil, provavelmente farão a mesma pergunta lá.


E para mim? Por que Berlim?Sinceramente?
Porque eu amo esta cidade. No começo eu achava constrangedor falar desse amor para os alemães, e justificava minha vida aqui pelo fato de minha avó ter nascido aqui em Berlim. Porém, não tenho mais este problema. Sou apaixonada confessa pela Alemanha, e, principalmente por Berlim.Berlin é sensacional, incrível, apaixonante, fascinante! Eu me sinto super bem aqui. Gosto do clima (de verdade) e gosto da atmosfera irradiante. Acho curioso a grande diversidade cultural encontrada aqui, com pessoas de todas as partes do mundo, seja visitando ou morando.Acho interessante as pessoas poderem vestir o que quiserem, ninguém se importa, mesmo se seu estilo for esquisito, sempre terá alguém mais esquisito que você. Berlim é viva, e boa para todas as idades. As crianças podem brincar nas ruas sem medo, os idosos se espalham pelos incontáveis parques, que fazem Berlim muito verde.  É uma cidade segura, eu posso andar por aí tranquilamente, me sentar em um banco de uma praça, sem ter medo de ser assaltada, voltar a pé pra casa de um jantar, de um bar ou seja lá o que for que eu fizer a noite, sem me sentir ameaçada.


Berlim tem tudo o que eu preciso, não sinto falta de nada aqui.E ainda, tem um transporte público que funciona, e a bicicleta é usada como um meio de transporte real.  Para quem morava no Brasil, isso tudo tem muita relevância.


E a vida cultural aqui é impressionante. Eu posso visitar infinitamente museus, ir a filarmônica seis vezes ao ano, visitar exposições super interessantes, assistir concertos sensacionais.Para mim, Berlim é o lugar mais interessante do mundo! E olha que já rodei o mundo.


Então o que estou fazendo aqui?Estou em casa! Berlim é minha casa!



© Karla Maragno


Wer immer aus Brasilien in Berlin landet, bekommt diese Frage über kurz oder lang zu hören. Später dann, wenn man die Frage lange nicht mehr gehört hat, obwohl man sich nächtelang auf Partys rumgetrieben und viele Gespräche bei anderen Treffen mit Deutschen geführt hat, kann sie plötzlich wieder auftauchen, und dann gewinnt die Frage ein ganz eigenes Leben in den vielen Bedeutungen und Reaktionen, die sie hervorruft.

Wenn z.B. ein Brasilianer oder ein anderer Ausländer diese Frage stellt, spielt es keine große Rolle, selbst wenn die befragte Person gar keine Antwort auf die Frage hat - was meistens der Fall ist. Viele sind hier, ohne wirklich zu wissen, warum. Sie landen hier zufällig, genießen die Stadt und bleiben dann hängen. Kompliziert wird es, wenn die Frage von Berlinern, bzw. Deutschen gestellt wird, vor allem wenn man sich gar nicht oder nur ein bisschen kennt. Je nach Situation oder auch Zustand des eigenen Selbstbewusstseins kann diese Frage dann sehr ärgerlich, aber auch sehr fesselnd sein, zumal sie sofort verschiedene eigene Fragen aufwirft.

Bei gestärktem Selbstbewusstsein fragt man sich natürlich, wie es eigentlich um das Selbstbewusstsein des Fragestellers bezüglich seines Landes, bzw. seiner Stadt steht. Glaubt er oder glaubt sie wirklich, dass es besser ist, in einem tropischen Land zu leben, mit immerwährendem Sonnenschein und warmem Wetter übers ganze Jahr. Glauben sie, es ist verrückt, dass ich unsere sonnigen Strände gegen das graue und kalte Wetter hier tausche. Oder könnte es sein, dass man hier davon träumt, das ganze Jahr über T-Shirts, Shorts und Flip-Flops zu tragen? Kennt hier überhaupt jemand den Grad an täglicher Gewalt in Brasilien?

Bei schwachem Selbstbewusstsein kommen einem aber sofort andere Fragen in den Sinn. Warum will er oder sie das bloß wissen? Störe ich die Leute hier und sie fänden es besser, ich wäre nicht hier? Glauben sie, ich hätte kein Recht hier zu sein, haben sie etwas gegen mich? Gibt es hier irgendwelche Vorurteile gegen Brasilianer, bzw. Fremde generell? Glauben sie Deutschland gebühre nur den Deutschen? Oder ist der Fragesteller womöglich ein Neo-Nazi? Wären sie glücklicher, wenn ich morgen verschwinden würde?

Mit so vielen Gegenfragen im Kopf, erweitern sich natürlich schlagartig die Möglichkeiten einer Antwort.

Die Antwort kann vage bleiben, wie: "...das ist eine lange Geschichte"; verstanden wird dann sicherlich, dass es überhaupt keine große Erklärung gibt. Oder die Antwort ist unhöflich, wie z.B. "Weil ich es so will!", gerne auch einfach beknackt wie: "weil es hier so viele blonde Menschen gibt." Oder man entgegnet etwas sinnloses wie "... weil es nach meiner Kenntnis die einzige Stadt ist, die so lange von einer Mauer geteilt war." Nur noch zu steigern durch etwas pseudo-intellektuell-unsinniges wie, "... um in einer Stadt zu leben, in der mir die Geschichte auf Schritt und Tritt folgt. So bin ich immer mit der Vergangenheit verbunden und kann die Gegenwart besser verstehen – von der Entwicklung meiner Phantasie gar nicht zu reden. Hier kann ich die Energie des Neuanfangs spüren, des Neubeginns einer Stadt, in der der zweite Weltkrieg endete, total zerstört und dann wiederaufgebaut. Das ist die Magie hier, ich kann das Licht, aber auch den Schatten fühlen."

Nur wenn man weiß, was man hier konkret vorhat oder schon macht, fällt die Antwort direkt aus und das Gespräch wird einfach fortgeführt. Zumal die Frage meist aus purer Neugier gestellt wurde. Deutschen, die in Brasilien leben, wird sicherlich die gleiche Frage gestellt.

Und für mich? Warum Berlin? Ganz ehrlich?

Weil ich diese Stadt liebe! Am Anfang war ich zu verlegen, über diese Liebe mit den Deutschen zu reden – und so habe ich stattdessen meine Anwesenheit damit zu begründen versucht, dass meine Großmutter in Berlin geboren wurde. Aber das hat sich schnell gelegt. Jetzt offenbare ich leidenschaftlich meine Begeisterung für Deutschland und insbesondere für Berlin!

Berlin ist fantastisch, verblüffend, aufregend und faszinierend! Ich fühle mich sehr wohl hier. Ich mag das Wetter (wirklich!) und mir gefällt die schillernde Atmosphäre. Ich bin begeistert von der großen kulturellen Vielfalt, geschaffen von den vielen Menschen aus der ganzen Welt – sei es, weil sie hier leben oder nur zu Besuch sind. Es ist witzig, dass die Leute hier genau das tragen können, was sie wollen, keiner nimmt groß vom anderen Notiz, selbst wenn der Stil eher abstoßend ist – es kann ja immer noch jemanden geben, der noch seltsamer herumläuft. Berlin ist lebendig und wunderbar für alle Altersgruppen. Kinder können auf den meisten Straßen spielen, ohne Angst haben zu müssen, die Alten sind oft in den zahlreichen Parks, die Berlin zu einer wirklich grünen Stadt machen. Es ist eine absolut sichere Stadt, in der ich entspannt herumlaufen kann, ich kann mich auf den Plätzen auf jede Bank setzen, ohne befürchten zu müssen, ausgeraubt zu werden. Abends laufe ich ohne das Gefühl bedroht zu sein nach Hause - vom Restaurant, von einer Bar oder woher ich auch immer des Nachts komme.

Berlin hat alles, was ich brauche, ich vermisse hier nichts.

Es gibt einen öffentlichen Nahverkehr, der diesen Namen verdient und Fahrräder sind wirkliche Fortbewegungs- und Transportmittel. Für jemanden, die in Brasilien gelebt hat, bedeutet das sehr viel.

Und das kulturelle Leben ist einfach fantastisch. Ich kann ohne Ende Museen besuchen, kann so oft, ich will, in die Philharmonie, kann wunderbare Ausstellungen anschauen und in viele unterschiedliche Konzerte gehen. Für mich ist Berlin der interessanteste Ort der Welt – und ich bin davor schon ein bisschen herumgekommen.

Also, was mache ich in Berlin?

Ich bin hier zuhause, Berlin ist mein Zuhause!

Übersetzung: Martin Hagemann
© Martin Hagemann



terça-feira, 23 de setembro de 2014

Local de treinamento de tráfico para crianças foi prisão feminina na era Nazi

© Karla Maragno
Este local tranquilo, que pode ser facilmente confundido com uma super quadra de Brasília, é um local onde as crianças costumam ir aqui em Berlim para aprenderem sobre tráfico. Sim, os alemães são realmente educados desde a infância a respeitarem as leis de transito, incluindo as bicicletas.
Isto é realmente para nós brasileiros um fato interessante, mas por traz deste inocente lugar, existe outro fato interessante. A história passada aqui.
Neste mesmo local existia uma prisão feminina na era Nazi, que era usada para a punição de prisioneiras políticas. As mulheres aguardavam o julgamento em suas celas para o Volksgerichtshof  - Tribunal Popular - que geralmente terminava em sentença de morte.
Após os julgamentos, a prisão feminina de Barnimstrasse, era a última parada antes das execuções em Plötzensse para centenas de mulheres.
A prisão tinha uma capacidade normal para 420 detentos, mas em 1943 mais de 1400 mulheres se espremiam nas celas.

O prédio ainda permaneceu como prisão feminina depois de 1945 e foi demolido em 1974.

© Karla Maragno

O passado sombrio foi apagado na paisagem de Berlim. O que vemos por aqui agora é a esperança futura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Maurício em Berlim

Ensaio inspirado na música Maurício da banda Brasiliense Legião Urbana.

"Já não sei dizer se ainda sei sentir
O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedecer
Parece agora estar tão cansado quanto eu
Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem
Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Pra algum país distante
Voltar a ser feliz
Já não sei dizer o que aconteceu
Se tudo que sonhei foi mesmo um
sonho meu
Se meu desejo então já se realizou
O que fazer depois
Pra onde é que eu vou?"

Trecho da música Maurício - Legião Urbana


Acreditei que a solidão me caía bem
Não pensei duas vezes ao fazer planos e ir para um país distante
Distante de amigos, da língua mãe, da família, da zona de conforto, dos antigos hábitos, de tudo o que me irritava mas me fazia sentir em casa.
Queria resgatar essa tal felicidade em um país distante.
Me reinventar. Fugir do antigo eu.
Voltar a ser feliz sem muito pensar no que de fato me fez um dia feliz.
Me reencontrar no meio de uma outra terra, outra língua, outra paisagem, outra cultura. 
Acordo perdido. Não sabendo dizer o que aconteceu. Se tudo o que sonhei foi mesmo um sonho ou um vazio que tentei preencher. E quem são estas pessoas que agora me rodeiam? Que sensação infeliz é essa de não compreender totalmente a língua? Faço esforço para dominá-la, mas por mais que eu estude essas declinações e formo palavras longas, conseguirei um dia comunicar meus sentimentos mais profundos em alemão? E esta tal paciência que na marra aprendo dia a dia a desenvolver junto com a humildade, a aceitação de regras alheias. Aqui não coloco regras conforme minha vontade. Abdiquei meu reinado. Aqui não sou ninguém. Sou muitas vezes transparente. 
Vou a praças e vejo a multidão de turistas. Tento me sentir melhor. Eles vão embora em breve. Ficarei aqui. Sou mais feliz que eles. Esta é a cidade que escolhi para viver. Para voltar a ser feliz. 
Se meu desejo então se realizou, por que não me sinto feliz? Qual o meu problema? 
Se meu desejo então de realizou, o que fazer depois? Pra onde é que eu vou?
Me sinto tão só e dizem que a solidão, até que me cai bem...
Pra onde é que eu vou?
© Karla Maragno
Vou pra cama, dormir, sonhar, relembrar tudo o que eu vivi e perceber que tudo isso não passou de uma crise normal quando moramos num país distante, quando ousamos realizar sonhos ousados. Vou então acordar livre de toda essa crise, pronto pra continuar caminhando rumo a minha adaptação aqui, e sentir que finalmente voltei a ser feliz.
Se sou capaz de correr atras dos meus desejos, sou também capaz de vivê-los quando eles se realizam.






terça-feira, 16 de setembro de 2014

Estágio para jornalistas na Alemanha

O Internationale Journalisten-Programme, é um programa de intercâmbio entre Alemanha e América Latina que acontece anualmente com apoio do Ministério Federal de Imprensa da Alemanha e de empresas privadas. 
De acordo com o edital, o objetivo do programa é promover relações entre os países e dar aos jornalistas oportunidade de conhecer de perto outras culturas. Com o estágio, que tem duração de dois meses, os profissionais latino-americanos poderão trabalhar em um veículo de comunicação alemão e se familiarizar com questões políticas.
As inscrições para aquisição de bolsa para março e abril de 2015 estão abertas, e podem participar da seleção jornalistas entre 23 e 35 anos. É preciso ter conhecimento em alemão, ou, em alguns casos, a fluência pode ser trocada pelo inglês ou espanhol na falta do requisito. Os selecionados irão trabalhar como redatores, estagiários ou colaboradores fixos, e receberão bolsa de €3600 para custear viagem, alojamento e alimentação.
Para participar da seleção, interessados devem apresentar seus pedidos até 18 de setembro de 2014 à Embaixada com currículo, cópia de reportagens do candidato, carta de motivação e carta de recomendação do redator-chefe.
O e-mail para fazer a inscrição é:dz-100@brasil.diplo.de
Para maiores informações veja o edital em português

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Schleuse? What the hell is that? - Text in German

Alles fing damit an, dass ich zu einer einwöchigen Bootstour auf der wunderschönen mecklenburgischen Seenplatte eingeladen wurde.

Für jemanden wie mich, der noch nie woanders, als in einem Bett geschlafen hat, hört sich so etwas erst mal aufregend, aber auch ein bisschen furchterregend an: eine so lange Zeit auf einem Boot zu schlafen,  zu essen, zu trinken, und seinen natürlichen Bedürfnissen auf einem Boot nachgehen zu müssen, ohne dass fester Boden um einen herum ist. 
Also habe ich erst mal einen Monat nachgedacht und nach einigen Überlegungen kam ich dann doch zu dem Schluss, dass es eine ganz nette Erfahrung sein könnte, ruhig über sanftes Wasser zu tuckern, so ganz ohne große Überraschungen, ohne Bedrohungen, ohne Stress – dachte ich. 

An einem sonnigen Samstag verließen wir Berlin in einem Auto mit Lebensmitteln für eine Woche und waren knapp 2 Stunden später in der Marina in Fürstenberg. Erst dort erfuhr ich, dass wir zwischen den Seen unzählige Schleusen passieren müssten. Was um Himmels willen sind denn "Schleusen"?


©Karla Maragno

WAS? What the hell is this?"

Ein schneller Blick in mein Portugiesisch-Deutsches Wörterbuch zeigte mir, dass es sich um eine 'eclusa' handele, eine Art Lift für Boote zwischen den Seen, deren  Höhenunterschiede überwunden werden mussten. Noch keine Reaktion bei mir. Ich fragte mich nur, wie dieses Ding unsere Bootsfahrt beeinflussen könnte, wusste aber auch, dass ich nicht spekulieren sollte, und nur in der Praxis herausfinden könnte, was dieses Ding  bedeutet. Und so war es auch.
Und gleich am ersten Tag nach 15 Minuten Bootsfahrt kam meine erste Schleuse. 

© Karla Maragno



Um das Boot in der Schleuse ruhig zu halten, muss jemand mit einem Bootshaken das Boot erst vorne in der Schleuse an einer Stange oder einem Ring stoppen, dann eine Seil durch den Ring fädeln und das Boot mit dem Seil halten. Es gab aber nur zwei Leute auf unserem Boot, und da der andere fahren musste, war das Ganze also meine Aufgabe.

"Wie meinst du, ich muss mit dem Haken dahinten rüberreichen, dann das Seil nehmen und das Boot halten", fragte  ich, "das kann ich nicht."

Aber, ob ich es konnte oder nicht, wenn nicht ich es tun würde, würde der nächste See für uns unerreichbar bleiben. 

OK. Meine erste Schleuse klappte großartig. Sie war relativ klein und es gab nur ein paar Boote, die stillhalten mussten.
"Anfängerglück", dachte ich im Stillen, aber ohne große Illusionen.




Am nächsten Tag eine Überraschung. Eine lange Schlange von Booten vor der Schleuse, durch die wir durch mussten. In den Sommermonaten kann das schon mal vier Stunden Warten bedeuten - und damit ergab sich eine neue Herausforderung.

©Karla Maragno


Die Boote müssen beim Vorrücken hintereinander gehalten werden. Und dazu zielt  man beim Vorrücken, mit dem Seil in der Hand, auf einen der vielen Pflöcke, die am Rand eingerammt sind und macht dann eine Schlinge herum. Und wieder muss man das Boot halten, vor allem aufpassen, dass man nicht das Boot vor einem rammt und auch nicht über eines der tausenden von Kanus fährt, die rund um einen im Wasser sind. Ich muss zugeben, bei den ersten Pflöcken hatte ich nur den einen Gedanken: "warum besuche ich eigentlich nicht gerade ein Museum?" 

©Martin Hagemann


©Karla Maragno
Wenn die Schlange lang ist, bedeutet es, dass man das Lasso immer wieder auf Pflöcke werfen muss, denn die Boote rücken langsam Richtung Schleuse vor, bis man selber an der Reihe ist, in die Schleuse einzufahren. Das bedeutet jedes Mal, das Seil loszumachen und an einem weiter vorne liegenden Pflock per Lasso Wurf wieder festzumachen. Nach ein paar Tagen merkte ich, dass die Schlange während des Urlaubs auf den Seen auch Spaß macht. 
Ich fand den Umgang und den Respekt unter den Leuten beeindruckend. Und wie ruhig es in diesen Warteschlangen ist. Die Leute lesen, putzen ihr Boot, essen, legen sich in die Sonne, schlafen ein bißchen, machen alles mögliche, aber stören niemals die anderen. 



Ich habe mich gefragt, wie das ganze wohl in einer Schlange in Brasilien gewesen wäre. Es fiel mir schwer, mir  alle Brasilianer ruhig lesend auf ihren Booten vorzustellen. Vor meinem inneren Auge sah ich alle Boote, auf jedem verschiedene, vor allem aber laute Musik. Es amüsierte mich, mir vorzustellen, wie die Leute auf ihren Booten tanzten und sich alle möglichen Unbekannten miteinander unterhielten. 

Zurück zu meiner ersten Erfahrung in einer großen Schleuse. Nach einiger Zeit in der Schlange, Pflock um Pflock bis in die Schleuse, gelang es mir dann nicht in derselben das Boot zu halten, nachdem wir reingefahren waren. Wir rammten fast das Boot neben uns, Panik brach aus. Ich hörte, wie Leute mir laut Anweisungen gaben, ich solle das Boot halten. Ich hielt es mit aller Kraft, aber es reichte einfach nicht. Ich war sehr irritiert, wie sie insistierten, ich solle das Boot halten. "Sehen die Leute denn nicht, wie ich mich anstrenge? Das Boot wollte einfach nicht, das ist doch nicht meine Schuld!" Dann bekamen wir Hilfe. Ein Mann sprang auf unser Boot und versuchte, ein Desaster zu verhindern. Ein anderer sprang am Rand der Schleuse mir bei und hielt das Boot mit kurzer Leine, ein Riesendurcheinander, währenddessen ich meine neueste Entdeckung verfluchte: Schleuse!

© Martin Hagemann



Als die Situation unter Kontrolle war, drehte ich allen in der verdammten Schleuse den Rücken zu und weigerte mich, an der Unterhaltung teilzunehmen und mir die Kommentare zu dem, was passiert war, anzuhören. Die Leute auf dem Nachbarboot luden uns zum Abend auf ein Bier ein, andere versuchten es mit einem anderen Thema, aber alles, was ich wollte, war aus dieser Hölle rauszukommen. Ich  brauchte eine Weile drüber wegzukommen, aber dann begriff ich, dass die meisten selber keine Ahnung von Pflöcken, Seilen und Bootshaken usw. hatten. So viele haben keine Ahnung, dass es an jeder Schleuse Zuschauer gibt, die sich das Spektakel anschauen, vor allem von den Brücken aus, weil man dort die beste  Aussicht auf den garantierten Spaß hat.

Auf den meisten Booten machen die Frauen vorne diese Arbeit, während sie von ihren Männern angeleitet werden. Es ist mehr oder weniger immer das gleiche. Man sieht ein Boot herankommen, und vorne steht eine angespannte Frau mit einem Seil in der Hand. Kurze Zeit später Kommandos oder auch Schreie der Männer Richtung ihrer Frauen, sie mögen mit gutem Lasso Wurf rund um den nächsten Pflock oder Haken das Boot gefälligst zum Halten bringen, während das Publikum diese durchgedrehten Szenen genießt.

Uns wurde die Geschichte eines Ehepaars auf Hochzeitsreise erzählt, die sich dazu ein Boot gemietet hatten. Am Ende der Woche - nach den Schleusen - war die Ehe schon beendet.
Ja, diese Macht haben sie. Im Vergleich mit den Seen stehlen die Schleusen diesen oft die Show. Sie sind was ganz eigenes in dieser Gegend, zahlreich, endlos. Es kann passieren, dass man an einigen Tagen durch sechs von ihnen durch muss. Unglaublich. 
Und wenn man sich darüber beschwert, dass der Schleusenwärter unfreundlich und völlig ungeduldig ist, dann stellt man plötzlich fest, dass es noch schlimmer kommen kann. Denn wenn man weiß, dass in Deutschland vieles mit  Selbstbedienung passiert, dann hätte ich mir denken können, dass es auch Schleusen mit Selbstbedienung gibt. In denen wird es richtig kompliziert, denn neben dem Lasso werfen, dem Pflock und dem Halten des Bootes muss man dann auch noch die Schleuse bedienen, sie aufmachen und wieder schließen. Die Leute sind total beschäftigt, gestresst, verwirrt und die Schlange wird noch länger. 

© Karla Maragno


Aber dann kann man weiterfahren, kann feiern, dass man es geschafft hat, auf und ab springen, singen, die Landschaft genießen und vergessen, was passiert ist. 

Wie auch immer - nachdem wir jeden Tag durch mehrere Schleusen gefahren waren, hatte ich vieles erlebt: zwischen dem Spaß, den das Ganze macht, und dem Alptraum, der es auch sein kann bis zu den fernen Erinnerungen an das erste Trauma: What the hell are "Schleusen"? Zwischen all diesen Extremen gewöhnt man sich schließlich dran. Ich kann nicht sagen, ob ich sie mag oder nicht, aber sie sind definitiv etwas Besonderes. Sie waren Teil der Ferien in diesen wunderschönen See; man kann sie eh nicht ändern, außer man besucht die Seen vom Land aus. Das ist auch sehr besonders, aber es ist auch etwas ganz anderes, die Schönheit dieser Gegend von außen, mit Blick auf die Seen, zu genießen. Und nur wenn man sie, die Schleusen, erlebt hat - egal ob man sie mag oder nicht -, wird man feststellen, dass es sich trotz allem Stress gelohnt hat.


©Martin Hagemann

Diese Seen sind fest in deutscher Hand. Wir haben jedenfalls keine andere Sprache als Deutsch gehört, noch nicht mal Englisch. Die Fahnen auf den Booten sind auch fast alle schwarz-rot-gold. Einmal haben wir ein paar Russen, Polen und auch Schweizer getroffen, aber Brasilianer? Ich hab' keine gesehen, aber ein  "gringo às avessas" war offensichtlich bemüht, sein Territorium mit der brasilianischen Fahne zu markieren. Oder war es ein Überbleibsel der Fussball-Weltmeisterschaft?

Translate by Martin Hagemann

sábado, 30 de agosto de 2014

Schleuse? What the hell is that? - Text in Portuguese

Tudo começou quando fui convidada para passar uma semana passeando de barco nos lindos lagos em Mecklenburgische Seenplatte.

Para uma pessoa totalmente urbana, que jamais dormiu fora de uma cama na vida, este "longo" período dentro de um barco, dormindo, comendo, bebendo, indo ao banheiro, etc., sem muitas possibilidades de terra firme, apesar de diferente e excitante, parece um tanto assustador a principio.
Por isso demorei aproximadamente um mês pensando no assunto e depois de muitas conjecturas, concluí que seria muito interessante, a experiência de passear calmamente por águas calmas, sem surpresas, sem ameaças, sem estresse.

Com o carro cheio de mantimentos para uma semana, saímos de Berlim em um sábado ensolarado de verão e aproximadamente duas horas depois estávamos em uma marina em Fürstenberg. Foi lá que tomei conhecimento que para passear nos lagos da região teria que passar por incontáveis Schleusen.

© Karla Maragno

"WAS? What the hell is that?"

Olhei no dicionário Alemão/Português o significado da palavra e encontrei "Eclusa" - uma espécie de "elevador" que permite as embarcações subirem ou descerem os lagos, rios ou mares em locais onde há desníveis de água.
© Martin Hagemann
Mais uma vez fiquei meio sem reação tentando imaginar o que na prática essa coisa iria afetar meu passeio de barco. Sabia no entanto que era em vão especular. Eu iria apenas descobrir na prática seu significado. E assim foi.
No primeiro dia, logo nos primeiros quinze minutos de passeio, lá estava ela, minha primeira Eclusa.



Para que o barco fique quietinho dentro deste espaço, é preciso que um dos passageiros alcance um gancho dentro da Eclusa, passe a corda por ele e segure através desta corda o barco. Como só havia eu e uma outra pessoa no barco, e esta outra pessoa o conduzia, era meu dever fazer isso.

"Como assim, alcançar o gancho, passar a corda e segurar o barco?" Perguntei "Eu não sei fazer isso!".

Mas não tinha como não fazer, ou eu fazia, ou não sairia do lago em que estava.





OK. Até que a primeira Eclusa foi tranquila. Era relativamente pequena, haviam poucos barcos e consegui segurar tranquilamente.
"Sorte de principiante", pensei, sem me iludir.
© Karla Maragno





No dia seguinte uma surpresa. Uma fila imensa de barcos diante de uma Eclusa que teríamos que passar. Durante o verão a fila de barcos pode chegar até 4 horas de espera, e então um novo desafio. Segurar o barco na fila.

© Karla Maragno



É preciso mirar com a corda na mão um dos tocos de madeira que ficam ao longo dos lagos, enquanto o barco se aproxima de um deles e então laça-lo. Mais uma vez segurar o barco, tendo todo cuidado para que este não trombe no barco da frente, ou a parte de traz não vá para frente, não atropele os milhares de canoistas que passam, enfim, confesso que nos primeiros tocos a serem alcançados eu me perguntava, "por que mesmo eu não estou visitando algum museu?"

©Martin Hagemann


© Karla Maragno
Se a fila é muito grande significa que você precisará laçar muitos tocos, pois os barcos vão entrando aos poucos nas Eclusas e os de traz avançando até chegar a vez dele. Isso significa, soltar a corda e procurar laçar um toco mais a frente inúmeras vezes. Depois dos primeiros dias percebi que a fila também é parte da diversão das férias no lago. O que me deixou impressionada, é a relação de respeito que as pessoas têm umas com as outras. E o quanto as filas são silenciosas.
As pessoas aproveitam as filas para ler, limpar o barco, dormir, comer, pegar sol, enfim, algo que não incomodará jamais o próximo. Eu me perguntava como seria uma fila de barcos de quatro horas no Brasil. Na minha imaginação era difícil visualizar brasileiros lendo calmamente em todos os barcos. O que minha mente via era cada barco um som alto com músicas das mais diversas disputando entre si. Me divertia imaginando pessoas dançando em cima dos barcos e evidentemente conversas animadas entre desconhecidos.

Mas voltando a minha primeira experiência com uma Eclusa grande. Depois de algum tempo na fila, de toco em toco, ao entrar na Eclusa, não consegui a princípio segurar o barco, o que fez a parte de traz quase bater em outro barco que estava paralelo ao nosso. Foram alguns segundos de pânico. Comecei a ouvir pessoas falando alto comigo e me dando instruções. Me mandavam segurar o barco. Eu já estava segurando com toda minha força, só não estava conseguindo. Comecei a ficar irritada com a insistência de me mandarem segurar o barco. "Será que não estão vendo que eu estou tentando e se o barco não obedece não é algo que faço de propósito?" Começamos então a receber ajuda. Um homem pulou dentro do nosso barco pra tentar impedir um desastre, outro pulou na minha frente para segurar o barco, enfim, foi uma confusão, onde eu fiquei totalmente histérica amaldiçoando a minha recente descoberta: Schleuse.
©Martin Hagemann
Depois da situação estar sob controle, me virei de costas para todo mundo na maldita Schleuse e me recusei a participar da conversa e comentários a respeito do que havia acontecido. O pessoal do barco ao lado nos convidou para uma cerveja mais tarde, outros tentavam algum outro assunto, mas a única coisa que eu queria era sair de dentro daquele inferno. Demorei um certo tempo para me recuperar, mas depois disso percebi que a maioria das pessoas não sabem como lidar com tocos, cordas, ganchos, etc. Tanto que existe um número imenso de pessoas que ficam assistindo o espetáculo das Eclusas, principalmente em cima das pontes onde a visão é melhor, pois a diversão é certa.

A grande parte dos barcos, as mulheres fazem este trabalho enquanto os homens conduzem os mesmos. Existe um certo padrão. Vemos um barco se aproximar com uma mulher tensa na parte da frente segurando uma corda. Em minutos, ouvimos comandos ou gritos dos seus homens que as fazem desesperadas tentando laçar os tocos, os ganchos, segurar os barcos e a platéia se divertindo com as cenas hilárias.
Ficamos sabendo de um certo casal que alugou um barco para passar Lua-de-mel e ao final de uma semana de Eclusas eles terminaram o casamento. Sim elas têm esse poder. Elas muitas vezes roubam a cena, disputando a atenção com a beleza dos lagos. São de fato um capítulo a parte nesta região. E são incontáveis, intermináveis. Em um mesmo dia é possível que se tenha que passar por até seis delas. Inacreditável!
E quando você reclama do cara que trabalha na Eclusa que lhe olha de cara feia e é totalmente impaciente, descobre que pode ser pior sem ele. É que como em quase tudo aqui na Alemanha é auto-serviço, acreditem, existem algumas Eclusas com este auto-serviço também. Aí a coisa fica realmente complicada, pois além de ter que laçar o toco, alcançar o gancho, segurar o barco, é preciso abrir e fechar a Eclusa. As pessoas ficam agitadas, estressadas, confusas, e a fila aumenta ainda mais.


Mas depois, você consegue passar por mais uma, comemora, dança, pula, canta, observa a paisagem, e esquece o que passou.

Karla Maragno


Enfim, depois de uma semana passando diariamente em mais de uma "Schleuse", encontro inúmeras respostas, que vão da diversão,  ao pesadelo, das boas lembranças ao trauma, para, "What the hell is that?"  No meio dos extremos, estão os que apenas as aceitam e acostumam-se com elas.
Não saberia dizer se gosto ou desgosto, mas tenho certeza que indiferentes elas não são. Elas fazem parte das férias de quem está nos lindos lagos, não tem como mudar isso, a não ser que a opção seja conhecer a região pelo lado de fora dos lagos. É muito especial também, mas é totalmente diferente presenciar a beleza da região, vista de dentro dos lagos. E apenas quem vive isso, pode dizer que, gostando ou não das Eclusas, elas valem todo o estresse.






©Martin Hagemann


Estes lagos são realmente "coisa dos alemães". Quase não se ouve outra língua que não seja alemão por aqui. Nem inglês. As bandeiras nos barcos são quase todas alemãs.  De vez em quando encontramos algum russo, polonês ou suíço, mas brasileiro? Não vi nenhum, no entanto, algum gringo as avessas fez questão de "marcar território" com  a bandeira brasileira!






sábado, 16 de agosto de 2014

João Ubaldo Ribeiro - Um Brasileiro em Berlim - Ein Brasilianer in Berlin

O livro de crônicas Um Brasileiro em Berlim, escrito por João Ubaldo Ribeiro, é o resultado de sua experiência dos meses vividos na Alemanha em 1990.
São análises bem-humoradas das diferenças culturais entre os dois países.
A dica para quem se interessa pela língua Alemã, ou quer compartilhar a mesma leitura com algum alemão, é ler na versão bilíngue (português - alemão).  A experiência é muito boa.

Das Buch zeichnet das Leben eines Brasilianers in Berlin nach, João Ubaldo Ribeiro hat es 1990 aufgrund der Erfahrungen seines einjährigen Aufenthaltes in Deutschland geschrieben. Alles in allem eine vergnügliche Analyse der kulturellen Unterschiede zwischen den beiden Ländern. Ein Tipp für alle, die sich für die deutsche Sprache interessieren oder das Buch mit einem Deutschen oder einer Deutschen zusammenlesen wollen, denn es ist als zweisprachige Version (Portugisiesch-Deutsch) erhältlich, eine sehr schöne Erfahrung.